Lembranças



Ela não deveria estar ali. Esse foi o primeiro pensamento de Poli e de Fernando quando seus olhos se cruzaram. Demoraram um tempo ruminando a ideia de quem deveria dizer a primeira palavra. E outro tempo para tomar coragem de efetivamente dizê-la.

--- Boa tarde --- a voz de Poli soou mais firme do que ela imaginou ser possível. --- Sou Poliana Toledo, filha de Carlos Toledo, e vim em  nome da Toledo Importações. Podemos conversar?

Fernando engoliu em seco. Era assim que ela jogaria? Fingiria que não o conhecia e que não haviam tomado banho de cachoeira nus? Mas como ele poderia esperar outra coisa daquela que o traiu  tão friamente?

--- Boa tarde, senhorita Toledo. Não vamos demorar no porto.

--- Suponho que tenham trazido mercadorias. O senhor se incomodaria se eu fosse à bordo para conversarmos?

Um sorriso brincou no rosto de Fernando. E Poli odiava aquele sorriso.

--- Estou sozinho na cabine, senhorita. Tem certeza de que é correto que uma dama venha à bordo?

--- Não sou de cristal, senhor Toledo. Sei bem me defender de cretinos e criminosos.

Ele trincou os dentes.

--- Resta saber quem é o cretino e o criminoso aqui, não? De onde estou vendo, eu teria que me defender.

--- O senhor me ofende.

Fernando deu de ombros. Depois de alguns minutos de silêncio, fez sinal para que o imediato permitisse o embarque de Poli. Antes que ela alcançasse o convés, todavia, ele se virou e entrou na própria cabine.

Não demorou muito para Poli passar pelo batente.

--- Podemos conversar civilizadamente, Fernando?

Ele estava de costas. Ainda assim, o aroma fresco dela chegou às suas narinas.

--- Feche a porta, Poli.

Postagens mais visitadas

Casa 2 na Amazon!

Wattpad