Prólogo - A Dama da Morte



Estou tão apaixonada pela história, que resolvi divulgar o Prólogo!

Northshire, 1810.

Os cavalos levantavam grama, lama e sangue. A suave lembrança do feno sendo jogado às vacas da fazenda foi sendo substituída pelo cheiro de morte. Eram muitos homens, de ambos os lados, feridos, abatidos e desmaiados. Sequer empunhavam-se os estandartes. O brasão ducal jazia abandonado entre cadáveres e a cena funesta embrulhava seu estômago. Batalha de Northshire é como ficaria conhecido aquele episódio.
Episódio?
Pessoas que ele pouca conhecia jaziam naquele chão, muitos dos quais longe demais da família. Haviam morrido antes que a última diligência postal recolhesse as cartas escritas no dia anterior, notas de um passado feliz, registros da sobrevivência efêmera de menos de 24 horas,
Ele era um homem da guerra, ou ao menos repetia isso para si mesmo enquanto encolhia-se nas fendas de uma árvore. Talvez dali a cinco ou seis anos, se ainda houvesse guerra... Quem sabe, então, ele poderia lutar. Quem sabe, então, ele tivesse coragem e efetivamente usasse sua espada.
Aliás, onde estava sua espada?
Malditos saqueadores!
Uma luz o cegou e o rapaz obrigou-se a procurar a origem do brilho. O sol refletido na lâmina era um sinal divino de que Deus havia mandado seus anjos recolherem os cadáveres. Mas aquele anjo, especificamente aquele anjo, era um Espadachim do Apocalipse.
Apertando os olhos, ele distinguiu uma forma pouco masculina dançando por entre os homens, cortando cabeças como se teasse um delicado vestido.
Era uma dama. E ele podia dizer isso com certeza não só pelas curvas esguias de seu corpo pequeno, como pelos cabelos cor de fogo que flutuavam ao vento, um vento só dela, fugindo das amarras cruéis de tranças grossas.
Surpreendidos pela própria incredulidade, todos os inimigos bastardos caídos aos pés da Deusa da Morte tinham o mesmo destino: o inferno. Ela os mandava, um a um, para as garras cruéis de Lúcifer, enquanto sentia suas melenas de rubi rebelando-se da prisão.
Lutava para que seu próprio clã sobrevivesse, o clã digno das cores do xadrez que a guerreira ostentava em uma faixa presa ao corpo. Dentro do elmo, ninguém imaginaria que uma dama lutava para garantir a sobrevivência da família ducal. Ninguém, exceto ele, que ficara hipnotizado pelos movimentos precisos da moça. 
Um grito visceral o tirou dos devaneios e o rapaz percebeu que uma lança seria arremessada em sua direção pelo rechonchudo James MacGregor.
John Turnsfeld, (mal) escondido na fenda da árvore, percebeu assim que ela empunhou a espada e decapitou aquele último homem de pé: aquela dama havia sido enviada para ele. 
E o som da lança do inimigo caindo ao lado do corpo do algoz lhe deu outra certeza: ela nunca o aceitaria.


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