Gregório de Matos
Gregório de Matos foi um poeta brasileiro, nascido em Salvador no ano de 1636. Advogado, relata-se a publicação de textos compilados em seis volumes sob o título Obras, por Afrânio Peixoto. Tendo cultivado a poesia sacra, lírica e satírica, também escreveu poemas graciosos e pornográficos. Em sua obra, observa-se a riqueza plástica e estática barroca, seu pano de fundo. Ocorreu tal identificação com a moda literária que chega-se a atribuir ao autor uma característica de personificação do movimento.
O Barroco apresenta uma mescla de pagão x místico, materialismo x espiritualismo, claro x escuro etc. Daí a poesia do Boca do Inferno, como ficou conhecido, evidenciar tanto sua simetria ao estilo.
É de se notar, tanto quanto a similitude métrica camoniana, a presença de traços do primeiro poeta notadamente brasileiro.
Vejamos um exemplo:
A ponderação do Dia do Juízo Final, e Universal
O alegre do dia entristecido;
o silêncio da noite perturbado;
o resplendor do Sol todo eclipsado;
e o luzente da Lua desmentido:
Rompa todo o criado em um gemido:
Que é de ti, mundo? adonde tens parado?
Se tudo neste instante está acabado,
tanto importa o não ser, como o haver sido!
Soa a trombeta da maior altura,
a que a vivos e mortos traz aviso,
da desventura de uns, doutros ventura.
Acaba o mundo, porque é já preciso:
Erga-se o morto, deixe a sepultura;
porque é chegado o Dia do Juízo!
