O tratamento humanizado da depressão


Quando Juliette se desenhou para mim, antes de eu escrever A Casa das Senhoras Distintas, eu imaginei alguém maldoso.
Mas, aí, eu me perguntei: por que ela seria má? E comecei a pensar em sua vida.
Juliette é irmã da Marcelle e casou por amor, iludida pelas equivocadas noções de um amor que tudo supera, que tudo passa, que tudo engole. Falando do século XIX, essa ilusão não era tão absurda.
O marido, entretanto, este sim era um homem ruim e eu nem me dei ao trabalho de pensar no motivo.
Não vou dar spoiler, mas o fato é que Juliette tinha um problema mental de diagnóstico relativamente comum hoje em dia: depressão.
Se, hoje, vivemos uma época de preconceitos e resistências, imagine-se há 200 anos?
Pois é...
Estudando sobre a forma de cuidado das doenças mentais, descobri que a história de Juliette se passa bem quando Pinel iniciou o tratamento humanizado na França. Aquilo, para mim, foi um sinal. Sim, eu precisava abordar o tema.
Há um trecho do livro, o qual transcrevo a seguir, que é fruto dessas minhas pesquisas. Não, amigos, não foi exagero nem tampouco licença poética.

"Perdida em lembranças confusas, Juliette tinha febres frequentes, para as quais eram receitados remédios cada vez mais fortes. A viscondessa passou a dormir quase o dia todo. Quase, porque uma vez por semana as portas do hospital de alienados eram abertas para que visitantes se divertissem com a visão dos internos, jogassem migalhas de pão e os cutucassem com varas. Nestes dias, estimulantes eram injetados nos doentes, que reagiam das mais diferentes formas à mistura de drogas no organismo."

Isso realmente acontecia à época. As doenças mentais - todas - eram jogadas no mesmo bolo, um enorme misturado de diferentes reações ao mesmo remédio. Pessoas eram enjauladas e cutucadas com varas. Eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.
Philippe Pinel foi um médico da cabeça - um alienista - que nasceu em uma prisão em 1745. Ele ficou conhecido por reconhecer a característica de doença das enfermidades mentais, afastando a violência do tratamento dos pacientes. Vejam bem: tudo era embrionário. Ele foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais e interessou-se pelo tratamento humanizado.
Enfim, há trechos realmente tristes nos originais de A Casa, trechos que não foram para o ar. Ainda assim, encontrei resistência nos leitores de acreditarem. Um exagero, disse alguém.
Não, amiga, não foi um exagero. Pelo contrário. Eu amenizei, e muito, o que realmente acontecia.

Doenças mentais não são ossos quebrados. Não são tão aparentes e, por isso, não são tão simples. Vivemos em uma sociedade de Tomés, que precisam ver para crer. Sintomas físicos são, na verdade, o único tipo de sintoma aceito. Todo o resto, é frescura.

200 anos depois de Juliette, ainda é possível encontrar pessoas que agiram como o pai dela em A Casa das Senhoras Distintas.

"- Limpe as lágrimas e pare de frescura.", ele disse. Oh, caro duque, ainda que fosse tão simples.
 
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