Desejo e loucura
Desde que assumiu o comando do Costa Brava, Fernando sempre sonhou com Poliana. Sempre, em todas as noites. Ele acordava excitado, muitas vezes em processo de finalização. Não demorou a trancar a cabine para poder, digamos, aliviar a energia sem ser incomodado.
Em todos os sonhos, ela era selvagem, disposta e bastante sensual. Os cabelos loiros sempre lhe caíam em camadas generosas e os seios, uau, os seios eram fartos e fariam qualquer puritano querer se enterrar.
Às vezes, ela usava um vestido de festa - o último no qual ele a vira, antes de descobrir a traição. Às vezes, ela vinha vestida como uma mulher do mar. Eram sonhos, ele sabia, mas não tentava mais fugir deles.
Em alguns portos, ele procurava mulheres como ela. Mulheres que aceitariam deitar com ele, realizar suas fantasias e serem chamadas por apelidos pouco carinhosos. Porque, por Poseidon, ele a odiava com todas as forças do seu corpo.
Ainda assim, ele a desejava. E Fernando sequer sabia qual dos sentimentos era o mais intenso: o ódio ou o desejo. Juntos, talvez, fariam-no possui-la violentamente sobre sua mesa, sobre sua cama, sobre o piano. No convés, na cabine, na cozinha. Em uma rede, na areia e no mar. Ele a queria, e queria provar para ela que ninguém jamais a teria como ele.
A imagem de Poli na cachoeira era a mais frequente. A primeira vez dos dois havia sido literalmente sua primeira vez, porque Fernando nunca tivera outra antes de Poli.
Quando ela completou 16 anos, ele a beijou. Poli não esperava, mas não resistiu. Ele a encostou na árvore atrás da casa da família durante a festa de aniversário da moça, pressionou seu corpo no dela e beijou.
--- Esse é o seu presente para mim --- lembrava-se de ter dito antes de colar os lábios nos dela.
Um tanto desajeitado, é claro. Mas o suficiente para seu membro enrijecer dentro da calça e ele saber que, cedo ou tarde, Poliana seria dele. Inteira.
Quatro anos depois da noite fatídica, ela estava ali, na cabine do seu navio, exalando o maldito cheiro de leite de rosas que o perseguia.
E Fernando foi jogado de volta ao passado. Àquela árvore, àquele beijo, a todos os outros que vieram depois - roubados e dados de bom grado.
--- Feche a porta, Poli --- rosnou.
E, maldita fosse, ela fechou.
--- Não pensei que o veria novamente.
Fernando finalmente se virou.
--- Não quis vê-la novamente --- foi a resposta que deu.
--- Vergonha?
Ele trincou os dentes e se aproximou.
Poli estava ainda mais bonita do que ele se lembrava, e era exatamente por isso que ele não queria vê-la.
--- Onde está seu pai?
--- Em casa.
--- E o seu marido?
Ela arqueou a sobrancelha.
--- Preciso do inventário do navio. Como você sabe, esse porto é administrado pela minha família há mais de um século e...
--- Eu vou beijá-la, Poli, se você não calar a maldita boca.
Ela arfou.
--- Você não se atreveria. Eu sou uma mulher...
Fernando a beijou.